quinta-feira, 13 de novembro de 2008

AMIGO

Escolho os meus amigos não pela pele e nem por outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquieta. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas, angustias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso só sendo loucos. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo. Quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, mas sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim, metade bobeira e metade seriedade. Não quero risos previsíveis e nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos e nem chatos. Quero-os metade infância e a outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que nunca tenha pressa.

(Pablo Neruda)

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